quinta-feira, 3 de abril de 2014

Os Velhos




Seguem tristes
Frios
Mudos
Na noite que é fria
Os velhos

Não falam
Não riem
Não olham para trás
Amar já não amam
O sofrer já não sentem

A frieza do gesto
O vidro do olhar
O duro do passo
Traduzem no fundo
Os seres que a vida tornou

Não vivem
Não sonham
Não esperam
Não são

Máquinas velhas
Os velhos
Velhas coisas
Que a vida tornou

Já choraram
Já sorriram
Já gemeram
Já louvaram
Já olharam esperançosos
O futuro
Já sofreram
Já falaram
Já falaram
Em vão

Bronzes que andam
Estátuas da dor
Que tiveram
Espelhos de desamor
Da indiferença
Do ódio
De que vítimas foram

Almas secas
Como os lábios
Almas duras
Como o gesto

Os velhos...
Os velhos homens não são
Homens de gelo
Que a vida tornou

Se choram não choram
Se riem não riem
São seres que a vida
De pedra tornou

Não param os velhos
Os velhos não sabem parar
Andar, tropeçar,
Cair, levantar, andar
Andar, andar, só andar

Não são peregrinos
Andam só
São oprimidos
Que a vida tornou

Andam por que o mundo é pequeno
Nele não cabem os velhos
O mundo é fechado
A sete chaves, não se abre

Os velhos não entram
Não são reconhecidos
Quando à porta
Chegam sedentos

O mundo não ouve
O apelo dos velhos
Os velhos não param
Adiante caminham

O amor do mundo
É seco
É duro
Não é amor
É farsa
É gelo
Por isso são frios
Os velhos

Samaritanos não há
No mundo de bronze
Os velhos existem
E muitos e se calam

E andam calados
Frios, famintos
Os velhos
Mudos
Os velhos tão velhos
Que a vida tornou



8-09-1963


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