quinta-feira, 3 de abril de 2014

Negrinho




Arde o sol,
Sobem preces,
Surgem cantos,
E lamentos.

Negro menino
De triste olhar
Carrega o fardo
Da vida e do pão.

No mercado sujo
Corre, se afoba
Trabalha, dá duro,
Sem queixas, sem dor.

Seu pago, tão pouco
Tão pouca a força.
O pão tão custoso
E uma fé tão imensa

“Carregador, carregador!”
Seu lema, sua vida.
Carrega de tudo,
Tristezas também.

Dele riem
Os mais sortudos.
Dele invejam
A vontade audaz.
Da tez escura
De pai e de raça,
Mas a alma, ah! esta,
Mais pura que todos!

À noite, de volta
Ao rancho, cansado,
Ao pai e à mãe
Reparte o ganho.

E estes sem dó
Em troca lhe dão
Sovas, escárnios
Pela féria tão pouca.

E chora escondido
O negro menino.
Chora baixinho
Pra Deus só ouvir.



7-08-1963

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