Maria
era só
Só
no mundo
Só
no amor
Mas
guardava para si
Toda
a desilusão
Maria
trabalhava
Para
viver
Pois
era ela só
A
cuidar de seu
Maltratado
corpo
Maria
lavava
Lavava
roupa
Montes
de roupa
Para
viver
Só
para viver
Maria
também lavava
A
alma dos vizinhos
Era
consultório
Dos
desamados
Ela,
a desamada
Maria
sofria
Mas
não dizia a ninguém
Queria
um amor
Para
se entregar
Mas
não vinha o amor
Maria
conheceu
Muitos
homens
Mas
nenhum agradou
É
que eles queriam
Às
suas custas viver
Maria
chorava
E
não encontrava seu príncipe
Fez
juras, promessas
Aos
santos e estes em troca
Mais
dores lhe davam
Maria
era fraca
Magrinha,
feiosa
Mas
alma tão boa
Igual
nunca se viu
Na
face da terra
Maria
lavava
E
pouco ganhava
Mas,
coração grande,
Onde
o mundo cabia
O
dinheiro não via
Maria
era boa
Boa
demais
Para
ser Maria
A
todos queria
O
rosto alegrar
Maria
amparava
Aos
aflitos que via
Só
ela, coitada,
Nunca
encontrou
O
amparo sonhado
Maria
lavava
E
era pequena
Tinha
olhos castanhos
Tão
belos os olhos
Da
pequena Maria
Maria
morava
Num
tosco casebre
De
zinco, de lata
De
sangue, de suor
Mas
só de Maria
Maria
morava
Pertinho
do céu
Do
alto do morro
Nas
noites de estrela
Maria
sonhava
Maria
sonhava
Mil
coisas bonitas
Queria
um vestido
Cor
de rosa
E
com bolinhas azuis
Maria
gostava
De
vestidos assim
Todos
rodados
E
que fossem iguaizinhos
Aos
das roupas das patroas
Mas
Maria não tinha
Vestidos
assim
Pois
apenas usava
O
da zurra, de toda a semana
E
o de por no domingo
Maria
era fraca
E
muito tossia
Vivia
molhada
Descalça,
no frio,
Para
o labor terminar
Maria
comia pouco
Muito
pouco
Pois
bom ganho não tinha
E
sumia de vista
A
pobre Maria
Maria
desejava
Um
pouco do mundo
Para
ser feliz
E
o mundo fugia
Das
mãos de Maria
E
Maria chorava
Por
que a vida era dura
Por
que o mundo era mau
E
as mãos estragadas
Os
olhos cobriam
Maria
era assim
Quando
morreu
Era
ela, ela só
Tão
boa a Maria
Que
o mundo esqueceu
18-09-1963
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